A guerra pelo controlo do tráfico de armas e de droga e por redes de prostituição está a atingir pontos nunca vistos na noite de Lisboa, confirmaram fontes policiais ao Nascer do SOL.
Os dois homens mortos, um a tiro e outro a golpes de faca, e os seis feridos graves no último fim de semana na capital – um no Cais do Sodré e outro no Bairro Alto – serão vítimas dessa guerra entre grupos organizados que disputam o controlo dos negócios da noite lisboeta na zona da Baixa Pombalina, Bairro Alto, Cais do Sodré e Alcântara.
As mesmas fontes policiais ouvidas pelo Nascer do SOL confirmaram também que os grupos rivais têm origens diferentes, opondo africanos e brasileiros, com um grau de perigosidade elevado, sendo que entre estes últimos destacam-se imigrantes originários de favelas cariocas.
O tráfico de armas constitui a maior preocupação das forças de segurança, que realçam o facto de nos últimos tempos terem vindo a ser apreendidas muito mais armas de fogo do que era usual no passado em ações de revista ou rusgas efetuadas na zona da Grande Lisboa.
«Até há pouco tempo as armas que utilizavam e que eram apreendidas em operações policiais eram armas brancas e tacos de basebol, agora são muito mais frequentes as armas de fogo», adiantou uma das fontes.
«Onde estão uns, não estão os outros. Há uma guerra de poder, no que diz respeito ao tráfico de armas, droga e prostituição», reforça a mesma fonte. À conta disso, a criminalidade violenta tem aumentado imenso, embora, oficialmente, não se passe nada. «O comando da Polícia prefere não dar ênfase a esta nova realidade para não alarmar a população e para ir de encontro aos desejos governamentais, mas acaba por ser contraproducente», diz outra fonte policial. «É certo que a situação não está descontrolada, mas há muito mais criminalidade violenta e o recurso a armas de fogo é mais frequente. Além disso, o negócio da venda de armas regressou em força».
Para as fontes policiais contactadas pelo Nascer do SOL seria «aconselhável que a Polícia desse conta do aumento da criminalidade e alertasse os jovens para os perigos que correm quando estão sozinhos na zona do Bairro Alto, Bica e Cais do Sodré. Dessa forma os jovens podiam tomar outras precauções».
Outro dos problemas que têm contribuído para o aumento da criminalidade diz respeito aos falsos vendedores de droga, que chegam a colocar nas mãos dos turistas o suposto ‘produto’ e depois obrigam-nos a dirigirem-se a um multibanco para efetuarem o pagamento, caso não disponham de dinheiro na carteira. «É um clássico. Durante o dia atuam na Rua Augusta e nas imediações, importunando os turistas perguntando se querem haxixe ou cocaína. Quando estes recusam, são mal tratados e, às vezes, quase agredidos. À noite transferem-se mais para a zona da Bica», conta um empresário ligado à restauração e que já viu várias vítimas a lamentarem-se. «Normalmente, os turistas são abordados na Rua de Alecrim e depois são coagidos a irem aos multibancos do Cais do Sodré onde são autenticamente roubados».
Na Bica, «aqueles que vendem durante o dia na Rua Augusta, e que todos sabem quem são, mas não se pode fazer nada – depois admiram-se de André Ventura subir nas sondagens – têm a concorrência na Bica dos brasileiros vindos das favelas. Estes gostam de andar em grupos de cinco ou seis e são bastante ameaçadores», confessou ainda o empresário.
Quando as forças de segurança apanham alguns destes falsos vendedores, acabam por os libertar pois o que tentam vender não passa, muitas das vezes, de Knorr ou de louro prensado. É um jogo do gato e do rato, em que as autoridades e os consumidores acabam sempre por perder.
Homicídios e feridos graves
À semelhança do que se passou durante muito tempo nas Ramblas, em Barcelona, a zona do Bairro Alto e dos Cais do Sodré estão a ser palco de inúmeros assaltos a turistas, embora quem vive em território nacional também não escape a essa «máfia. Podem escrever que funcionam mesmo como máfia. É assustador», conclui o empresário.
O último fim de semana em Lisboa foi de uma violência que não há memória, pois além dos dois mortos há ainda a registar seis feridos graves. Os confrontos ocorreram no_Cais do Sodré, Bairro Alto e nas imediações das Portas de Santo Antão. Do total de seis feridos graves, um foi «muito mal tratado para o hospital e pensava-se que não resistiria, mas parece que sobreviveu», notou a mesma fonte. Fontes policiais ouvidas pelo Nascer do SOL acreditam que estes números elevados, na maioria dos casos, estão relacionados com a tal guerra entre os dois gangues em disputa. «É óbvio que faz parte da guerra entre as duas fações. Mas os responsáveis poderão continuar a dizer que está tudo bem», lamenta o oficial de Polícia.
O primeiro homicídio confirmado pelas autoridades aconteceu na madrugada do passado sábado, dia 11, no Bairro Alto, embora se tenha escrito que foi em Alcântara.
‘Cavalo Branco’, um homem com cerca de 50 anos e que era conhecido por este nome por andar sempre de rabo de cavalo, perdeu a vida à porta do prédio onde vivia na sequência de um ataque com uma arma branca. O homem levou cinco facadas, tendo uma delas – na zona do pescoço – sido fatal.
O alegado homicida foi apanhado dois dias depois, na tarde de segunda-feira, na zona de Alcântara.
Na noite seguinte à morte do ‘Cavalo Branco’, a tensão deu-se na zona do Cais do Sodré. Um homem foi baleado duas vezes na Rua da Cintura do Porto, mais precisamente no parque de estacionamento que existe entre o terminal fluvial e a estação de comboios.
O alerta terá sido dado pelas 2h20 e apesar de a vítima ter sido transportada para o Hospital de São José acabou por não resistir aos ferimentos, tendo sido declarado o óbito. As imagens do homem baleado começaram a circular nas redes sociais e uma fonte da Polícia contou ao Nascer do SOL que chegou a pensar que seriam falsas. «Pensámos que eram de outro país, mas depois confirmámos que eram mesmo do homem morto na zona do Cais do Sodré. São imagens impressionantes».
As autoridades chamam ainda a atenção para o facto do homem ter sido baleado nas proximidades de um restaurante-discoteca que tem funcionado até às duas da manhã e onde têm acontecido diversos desacatos.
O Nascer do SOL tentou obter informações oficiais do Ministério da Administração Interna que nos remeteu para a PSP, tendo esta dito que «atendendo à questão do crime de homicídio, o mesmo é da competência investigatória da Polícia Judiciária assim que nada podemos referir sobre as vítimas ou agressores». Mais uma vez ouve-se o silêncio oficial.
* Fonte – sol.sapo.pt
* Por por Vitor Rainho e Joana Faustino